Quando a escola se torna mais ecológica, os alunos ficam também mais alegres

21/03/2025

Liseta Alves deixa logo um aviso: “A horta não costuma estar assim tão engalanada, mas, hoje, é dia de festa”. Na EB da Fontinha, professores, auxiliares e encarregados de educação não escondem a alegria de ver um espaço do recreio, exíguo, ocupado por couves, salsa, alface, brócolos, morangos, ervas aromáticas… Mas são, sobretudo, os alunos que mostram toda a satisfação pela “sua” horta. Não é para menos: foi considerada um dos bons exemplos do programa municipal “Mais Hortas”.

A coordenadora do programa na escola abre a “Horta da Fontinha” a todos os convidados. O vice-presidente da Câmara é um deles. Interage com os alunos, questiona-os sobre as suas produções hortícolas, dá os parabéns por ver que, para além dos livros, há todo um mundo agrícola que se apresenta às crianças e que elas dominam as técnicas.

Esta sexta-feira, Filipe Araújo visitou a escola básica. Ali foi criada, em 2024, uma das dez novas hortas, localizadas em estabelecimentos de ensino. O “Mais Hortas” visa apoiar escolas na valorização dos seus espaços escolares e a aprendizagem ativa, promovendo a biodiversidade, a produção agrícola sustentável e a alimentação saudável.

Já envolveu mais de 700 alunos, 50 turmas, 70 professores, 40 auxiliares de ação educativa, 15 encarregados de educação e 30 adultos com formação em agricultura biológica e compostagem caseira. Mais de 250 m2 de terreno cultivado, com 32 sessões pedagógicas de acompanhamento.

“Este é um programa que nos dá um especial gozo. À volta da horta desenvolve-se um projeto com a comunidade, com a própria educação dos alunos. Os professores usam a horta para falar de matemática, da biodiversidade”, reconhece o também vereador do Ambiente.

Alinhada com a estratégia ambiental para a cidade, a iniciativa congrega várias instituições, como a Lipor, as empresas municipais (Porto Ambiente e Águas e Energia do Porto), a Direção Municipal de Educação, incluindo, ainda, toda a comunidade escolar dos diversos agrupamentos.

No primeiro ano, o do lançamento, o “Mais Hortas” envolveu dez escolas. Esta sexta-feira, Filipe Araújo assinou a adesão de mais quatro (EB Monte Aventino, EB S. João de Deus, Escola Artística Árvore e Escola do Comércio do Porto). “A nossa intenção é sempre ir aumentando, à medida que as escolas quiserem aderir”, adianta.

E perante o que acabara de ver não poderia ficar mais satisfeito. “Adoro o contato com a natureza. Acima de tudo, ver crianças a falar com tanto gosto das favas, dos morangueiros. Num meio urbano, como é o Porto, é gratificante ver que estamos a cultivar e conseguir que eles percebam o que é a natureza, como se desenvolve, o que aparece no prato quando comemos e de onde é que veio”, conclui Filipe Araújo.

EB da Fontinha: um bom exemplo do “Mais Hortas”

A EB da Fontinha pertence ao Agrupamento de Escolas Aurélia de Sousa. Ali, tal como diria Lavoisier, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Por isso, em dia de festa, realiza-se uma feirinha de produtos provenientes da horta. “Este é um projeto que envolve toda a escola. Cada turma trabalha num canteiro e, a partir daí, abordamos as várias áreas curriculares e os vários temas da horta”, revela a coordenadora da Escola Básica.

Sandra Gaspar, auxiliada por Liseta Alves, que sugeriu a adesão ao projeto municipal, enquadra a ideia num espaço exíguo, mas cheio de atividades: “Conseguimos vir com cada turma explorar tudo aquilo que a horta tem para oferecer, desde a formação de novas palavras, o vocabulário, o trabalho da matemática, com as contagens, o estudo do meio, a parte ligada às plantas e aos animais”.

“Às vezes está-se a aprender a ler e demora-se um ano, mas pôr uma planta na horta e vê-la crescer demora uma estação. É mais compensador para alguns deles”

Com o “Mais Hortas” foi toda uma descoberta de um mundo novo. A coordenadora da escola não tem dúvidas de que “muitos deles nunca tinham mexido na terra. E ver nascer é, realmente, sentir que é algo deles. É um produto com retorno. Às vezes está-se a aprender a ler e demora-se um ano, mas pôr uma planta na horta e vê-la crescer demora uma estação. É mais compensador para alguns deles”.

Sandra Gaspar não poupa nos elogios ao programa municipal. “É um projeto dinâmico e aglutinador. Aqui permitiu envolver os encarregados de educação na venda dos produtos. Com a ajuda da associação de pais, que tem tido um papel importante, aproximou-nos da comunidade”.

Com todo este envolvimento, dinâmica e aprendizagem, a EB da Fontinha, tal como a EB Augusto Lessa, da Torrinha e o Liceu Francês, foi considerada como “um excelente exemplo do programa ‘Mais Hortas'” pelo Município do Porto.