Porto define estratégia para as árvores que quer (e pode ter) nas próximas décadas

22/05/2023

Plantar árvores é mais do que plantar árvores. Implica saber as dimensões das ruas e caraterísticas como a exposição solar, o vento, a humidade, o solo, as vias de circulação. Para uma estratégia a 20/30 anos, o Município já sabe que árvores precisa e que árvores pode ter, como e em que ruas da cidade. O Plano de Arborização do Porto foi apresentado na tarde desta quarta-feira, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett.

Considerado, como afirmou o vice-presidente, “um plano extremamente importante para o futuro da cidade”, o documento estratégico tem como objetivo melhorar o espaço da arborização pública sustentável e vai “dar ferramentas para que o Porto e as suas infraestruturas se adaptem às alterações climáticas”, sublinhou Filipe Araújo.

Há muito que o Município sabe que tem 65 mil árvores e 156 quilómetros de artérias arborizadas na cidade. Mas “precisamos de mais”, garante o também responsável pelo Ambiente e Transição Climática. O foco são, neste momento, os 200 quilómetros de ruas que são possíveis de arborizar no médio/longo prazo.

“Só plantar árvores não é uma solução”, assegura Filipe Araújo, lembrando que “é preciso ter em conta questões de qualidade do ar, corredores térmicos ou até o risco de termos árvores de grande porte em espaço público” que não as sustente.

A partir de hoje, afirma o vice-presidente, “passamos a conhecer a realidade, com caráter científico, para tomarmos decisões”, acrescentando, que “temos os princípios de fundo que vão orientar os próximos 20/30 anos para termos mais árvores e mais seguras na cidade”.

O bom, o mau e a necessidade de ter árvores na malha urbana

Na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, o arquiteto paisagista da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP), Paulo Farinha Marques, e a especialista em bioclimatologia urbana da Faculdade de Letras da UP, Ana Monteiro, mostraram como projetaram a cidade no seu plano arbóreo para as próximas duas ou três décadas.

Incidindo em dez artérias piloto, e assumindo, desde logo, que nem todas as ruas da cidade podem ter espaços arbóreos, o documento estratégico define como é que o Município poderá intervir no espaço público no que diz respeito à plantação de árvores.

Dando o exemplo, Paulo Farinha Marques avançou que ruas como a do Heroísmo, pela sua largura, só poderão vir a ter árvores de um dos lados da via, de preferência na virada a sul, que recebe mais sol, e apenas espécies de folha caduca.

Artérias mais largas, como Pinto Bessa ou Gondarém, poderão receber árvores em ambos os lados da via, ou mesmo numa hipotética via central para o efeito, onde poderão ser plantadas árvores de médio-longo porte.

O responsável acrescentou, ainda, a importância da diversidade de espécies plantadas, uma vez que “quanto maior a diversidade, menor a exposição a doenças que atinjam uma determinada espécie”. Para o arquiteto paisagista, a escolha deverá, em qualquer dos casos, recair, preferencialmente, sobre espécies ripícolas, “típicas das zonas ribeirinhas e, por isso, com maior evapotranspiração”, com implicação na bioclimatização das ruas. Em algumas ruas, em matéria de conforto bioclimático, as árvores podem até ter um efeito negativo.

Ana Monteiro lembrou que “muitas vezes, não é tido em conta na escolha das espécies o facto de serem locais, ou pelo menos de climas semelhantes” e que existem muitos constrangimentos que incidem nessa escolha, nomeadamente os vetores de doença ou a combinação da humidade e das temperaturas nos diferentes locais.

A especialista referiu, no entanto, como “gostamos muito de árvores, mas muitos de nós queremo-las longe das vias por onde circulamos”. “As árvores já não só um aspeto estético”, sublinhou a cocoordenadora do Plano de Arborização da Cidade do Porto, reforçando o seu papel na “ajuda na mitigação dos efeitos das alterações climáticas”.

Percurso coerente para uma cidade de bem-estar

No final da sessão, o vice-presidente da Câmara do Porto afirmou que “o plano já começou a ser implementado”, uma vez que, sempre que iniciam um novo projeto ou são chamadas para alguma intervenção, as equipas municipais já atuam conforme as indicações do estudo.

Admitindo que, ao final dos 20/30 anos, “podemos estar numa realidade completamente diferente”, o responsável pelo Ambiente e Transição Climática do Município defende que “este plano é o que nos garante que vamos ter um percurso coerente”.

Nas palavras de Filipe Araújo, o que o Plano de Arborização pretende é “contribuir para o bem-estar de todos na cidade”.